sábado, 31 de dezembro de 2016

DESEJO DE ANO NOVO

Chegando ao supermercado para as tradicionais compras de última hora para o Revellion, me deparei com uma cena que me fez palpitar.
Em pleno século XXI, vi escravos. Escravos que carregavam pedras embaixo do sol escaldante do meio dia.
A visão dos funcionários empurrando enormes filas de carrinhos, com seus troncos encurvados para otimizar a força, gotas de suor marejadas das frontes e as faces resignadas embaixo do sol,  me remeteu de imediato à cena que imaginei lendo a obra de Saramago,  "Memorial do Convento", na qual escravos carregavam pedras maciças para a construção da Cadetral.
Ou quando, ainda criança,  eu visitava uma igreja na cidade de Sabará, quando alguém mencionou que a tal igreja, feita de pedra, havia sido construída por escravos. Olhei com os olhos arregalados para as pedras gigantescas do adro, imaginando os pobres negros carregando aquilo. Ainda me lembro da minha mãe sussurrando: "Que maldade!"


Dessa forma, não posso deixar de desejar que no próximo ano, cada brasileiro possa devolver seu próprio carrinho de supermercado,  para que outros brasileiros possam, não apenas no último dia do ano, mas em cada dia de cada ano, executar tarefas mais dignas de seres humanos!

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

A PEDRA QUE ATINGIU MEU TELHADO DE VIDRO

A PEDRA QUE ATINGIU MEU TELHADO DE VIDRO

Manhã de sábado e um plantão tranqüilo. Discutíamos os casos das crianças  internadas no CTI como sempre fazemos  nesse período do dia. Nessa manhã, pode-se dizer que a discussão seguia animada, até alegre. A estabilidade dos nossos pacientezinhos permitia que estivéssemos assentados à bancada, anotando, sugerindo, divagando. O colega que havia largado o plantão nos avisara que chegaria uma criança do interior para ser internada. Antes que concluíssemos a passagem dos casos, chega a criança que esperávamos. Mas ao contrário do esperado, não vem transportada em uma maca ou incubadora. Chega ao CTI nos braços de uma mulher. Mulher negra, de aparência simples. Os cabelos ressequidos cuidadosamente presos em um rabo de cavalo. Vestia uma jaqueta já surrada, e trazia o bebê aconchegado ao colo. Ao lado, outra mulher de aparência não menos simples, mas usando um jaleco igualmente surrado por cima da roupa, segurava um frasco de soro. Olhei para os três e deduzi:

-É a criança da cidade tal?

- Sim. – Reponderam as duas mulheres quase ao mesmo tempo.

Logo elaborei uma segunda dedução, mas fiz isso antes que a prudência tivesse tempo de me aconselhar. Atirei a pedra para cima:

- Veio sem médico?

Mesmo antes de ouvir a resposta escutei o som do vidro se estilhaçando:

- Não! Eu sou a médica! E ela é a enfermeira.

Respondeu, com um sotaque castelhano, a mulher que trazia em seus braços a criança. Respondeu com firmeza, me olhando nos olhos, mas sem raiva. Respondeu com a serenidade de quem tem o coração leve e a consciência tranqüila.

O mal estar que me invadiu a alma fez violento contraste com a tranqüilidade de segundos antes. Não tive espírito para me redimir do mal feito. Apenas respondi com um “OK” seco e indiquei o leito para o qual a criança deveria ser encaminhada.

Senti na boca um gosto amargo. Era o gosto do preconceito que emergira do meu coração.  A questão não era absolutamente a cor da pele. Fosse uma negra com os cabelos cacheados, óculos Ray-Ban, maquiada, com jaleco branquinho e em cima do salto, eu não teria dúvidas tratar-se da médica. Mas aquela mulher tão simples, de aparência e vestimentas! Aquela mulher cuja singeleza de sentimentos atentava contra todos os protocolos e carregava aquele que era seu paciente em seus próprios braços!

Passei o restante da manhã tentando justificar intimamente minha atitude. Afinal, é muito comum que os pacientes do interior sejam indevidamente transportados sem médico. E qual médico brasileiro, independente de gênero ou raça, transportaria seu doente dessa forma tão próxima? Mas quanto mais justificativas eu buscava mais estilhaços de vidro me caíam à cabeça.

Preconceito é isso. É não enxergar além da forma. É pré-conceber julgamentos desprovidos de bases sólidas. Ele fica lá, sendo discretamente cultivado dentro das nossas histórias, se expandindo lentamente em torno dos nossos conceitos, até que em uma bela manhã ensolarada ele dá o ar da graça.


A colega, provavelmente formada em Cuba, nos entregou seu pequeno paciente, que havia sido muito bem assistido do ponto de vista médico e humano. A precariedade das condições de trabalho não agastou a médica cubana, nem a impediu de fazer seu trabalho da melhor forma. Após deixar o pequeno sob nossos cuidados, se despediu amistosamente, agradeceu e partiu com um esboço de sorriso nos lábios, evidenciando a satisfação de quem cumpriu bem seu dever. E nós ficamos, amargando nosso preconceito.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

FREUD É UM GÊNIO

FREUD É UM GÊNIO

Das mais vivas recordações da minha infância tenho a de um final de tarde em que chovia violentamente, e estávamos eu e minha irmã em casa assistindo a TV, quando meu pai entra na sala, todo molhado, cenho franzido, uma expressão quase enigmática na face! Não nos saudou efusivamente como de costume. Não chegou sorrateiro para tentar nos pregar um susto. Desferiu  apenas uma frase, seca, a queima roupa: ­ ­“-Onde está sua mãe?’

Nos entreolhamos, eu e minha irmã, e antes que pudéssemos formular palavra, ele mesmo encontrou  a resposta. Iniciou a frase com uma expressão muito típica dele, mas que não fica bem reproduzir aqui, e continuou: “-No dentista! Esqueci sua mãe no dentista!” Rodou sobre os calcanhares e tomou apressadamente  o rumo da rua. Nós ficamos lá... às gargalhadas!

Minha mãe foi esquecida incontáveis vezes, nas mais diversas ocasiões e locais. No trabalho, na casa da minha avó, na rua, no dentista! Perdeu horário de almoço, perdeu novela, perdeu as estribeiras várias vezes.

E eis que hoje, contado com a amável disposição do meu marido em me buscar no trabalho, já que o nosso muito organizado Departamento de Trânsito me confiscou a careira de motorista, fui, descaradamente, esquecida!

Me lembrei da terrível sina da minha mãe. Freud é o maior gênio que a humanidade já viu.


Ainda bem que a penalidade do trânsito vai durar apenas 30 dias!

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

CAUSA ESTRANHEZA?

Te causa estranheza que a ONU tenha acolhido o pedido de proteção enviado por Lula?
Exibicionismo do ex presidente?
Da mesma forma que causa estranheza em algumas pessoas quando questiono: " Será que teremos eleições em 2018?"
Basta analisar com cuidado.

 -Um grupo de políticos,  sem votos,  tomou o poder do país.

 -Esse grupo  muda as bases da estrutura  de governo. A social democracia, escolhida nas urnas, é substituida pelo neoliberalismo.

 -Medidas de arrocho são impostas ao povo.

 -O arrocho não atinge os rendimentos do Executivo, Legislativo, Judiciário e Militares, que ao contrário,  tiveram reajustes de salário não condizentes sequer com a inflação.

 - Manifestações populares contrárias são repreendidas com desmedida violência

 -O direito à greve foi subtraído ao trabalhador

- Justiça seletiva

Isso já ocorreu no Brasil antes?
Sim. No ano de 1964.
Medidas totalitárias que caminharam para Ditadura na acepção exata da palavra.

Difícil de acreditar, é certo!  Mas antes de me acusarem de sofista leiam mais detidamente acerca do processo político ocorrido em 64 e  tirem as próprias conclusões.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

MÉDICO

MÉDICO
Tem médico de tudo. Médico de bebê, médico de vovô. Médico de grávida, médico de doido, médico de rim, de coração, de fígado. Médico de joelho. Médico de homens e médico de almas.

Médico não tem dia. O dia dele é do outro. Dia do retorno da dona Maria. Dia da cirurgia do bebê do leito 8. Dia do parto da Ana. Dia da diálise do menino do Morro Alto.  Dia de alegria, dia do transplante do menino de Caratinga. Dia que o Seu José foi de alta. Dia da quimioterapia, do escorpionismo, da parada, da arritmia.  Dia do exame do tio, da amigdalite do sobrinho, dia do óbito do vizinho.

Médico tem muitas casas. Tem a que ele mora com a família, tem a que ele mora com o coração, que vai todo dia. Sente falta se não vai. Médico também mora no plantão, no hospital, na cidadezinha que ele escolheu cuidar. Médico não tem cama. Dorme onde dá.

O médico não tem o direito de terminar sua refeição.” O Médico dos Pobres que disse, e disse bem. A urgência do outro é maior que fome do médico. A urgência do sangramento, do acesso, da queda, das lágrimas. A urgência de acalmar a alma.

Quem é minha minha mãe, quem são meus irmãos?” pergunta o médico. Porque o filho dele fica em casa com febre, para ele poder sanar outras febres, febre dos outros filhos. Porque o filho do médico morre também quando o  filho do outro  morre. O coração vai doendo, o dia vira luto. O médico vê sua mãe nos olhos daquela Doninha, escuta sua voz nas palavras dela, deseja muito que essa sua mãe fique boa! Deseja que seu pai não pegue a doença e trabalha para que todos os pais fiquem livres dela. O médico vai deixando irmãos pelo mundo. Vai deixando seu coração e levando o coração de muitos irmãos.


O médico não é dono da vida dele. Mas escolheu. O caminho só segue, não tem volta. Vai, médico, ser gauche na vida!

sábado, 15 de outubro de 2016

QUEM GANHA COM AS ABSTENÇÕES?


QUEM GANHA COM AS ABSTENÇÕES?

Eleições Municipais.
Momento importante de eleger representantes que terão papel fundamental na nossa rotina. Momento de eleger aqueles que mais diretamente cuidam da nossa casa.
São as primeiras eleições que ocorrem após o golpe político no Brasil, e por isso mesmo acontecem em um clima nada favorável. Clima de desalento, testificado pelo altíssimo número de votos brancos, nulos e absenteísmo às urnas.
Mas quem efetivamente ganha com as abstenções?
Ganha quem vota. O grupo que vai às urnas garante seu direito à representabilidade
Tomemos por exemplo o que ocorreu na cidade de São Paulo. Existem jornalistas afirmando que “o povo votou em João Dória”.
Será? João Dória teve 3 milhões e sessenta mil votos. Votos brancos, nulos e abstenções somaram 3 milhões e noventa mil. Na verdade, o povo não votou. Abriu mão do seu direito de escolher um representante. Mas o grupo que João Dória representa foi às urnas e garantiu sua representabilidade.
Para ser eleito o candidado precisa de ter 50%+1 dos votos válidos. Não importa se o número de abstenções for maior. Os votos válidos definem a eleição.
Representantes são eleitos através de uma combinação favorável de popularidade x rejeição. Geralmente aqueles que são eleitos combinam alta popularidade com baixa rejeição. Mas mesmo candidatos muito populares, podem não ser eleitos devido aos altos índices de rejeição por parte de um grupo. Dessa forma, se nenhum candidato te representa, vote naquele que você rejeita menos. Também é uma forma de se fazer representar.
Por exemplo, rejeito fortemente candidatos que tendem a governar baseados em preceitos religiosos. Não tenho nada contra religião alguma, mas o governante tem que governar para todos. Esse é o objetivo do Estado ser laico.
O governante não pode tratar o aborto como pecado, e sim como questão de saúde pública. Por outro lado, não deve tratar as questões de gênero como doença, e sim trabalhar pela inclusão. Assim por diante. Rejeitando então fortemente candidatos que têm a  religião como fator de evidência, voto no outro. Ainda que esse outro não me represente plenamente, tem aspectos que me desagradam menos.
O alto índice de abstenções elege um governo sem representatividade real.

Não devemos abrir mão desse instrumento democrático tão precisoso. Até porque, nem sabemos até quando ele existirá no nosso país cuja Democracia ainda é tão frágil, e se encontra de fato ameaçada.

terça-feira, 5 de julho de 2016

Pobre Selena Gomez!

                           Pobre Selena Gomez!
Logo antes do meu horário de nadar, acontece a hidroginástica da terceira idade. Por vezes tenho a feliz oportunidade de observar seus integrantes utilizando o corpo a seu favor. A elasticidade sendo trabalhada com movimentos suaves de alongamento, ajudando a deter o encurtamento próprio da idade. O equilíbrio demonstrado pela leveza e segurança dos movimentos, preservado ou reestabalecido, é conquista essencial para que a qualidade de vida do idoso caminhe lado a lado com ele. A algazarra da saída da piscina, os chistes amigáveis, a corridinha até o vestiário. Necessário ser mais rápido que o vento frio! Eles formam um núcleo social, são parte de um todo. A luta para manter o corpo funcionando bem é coroada com os louros da vitória sobre o tempo. Se mantêm jovens e felizes. Me fazem crer que usar o corpo a nosso favor é uma atitude de sabedoria.  O corpo é o nosso instrumento precioso para seguir na vida física. Mas muitas vezes fazemos o contrário. Empenhamos nosso esforço em favor de uma forma  física esteticamente apreciável, nos  esquecendo de  que  corpo caminha inexoravelmente para o envelhecimento.
Sentimento oposto à satisfação de observar meus colegas de academia me invadiu quando por acaso me deparei com uma matéria: “a foto que causou depressão em Selena Gomez”. Não pude conter a curiosidade e abri o link. Havia uma foto da cantora mexicana saindo do mar, exibindo um corpo absolutamente perfeito. Um corpo nem esquálido, nem obeso. Seios fartos. Aquela dobrinha no ventre, tão comum em mulheres que já passaram da adolescência e começam a acumular mais tecido adiposo no abdome. Pele lisa, bem cuidada e hidratada. Massa muscular aparentemente preservada. Era um corpo que dava todos os indícios de uma boa alimentação e de uma vida feliz, de uma pessoa que se permite pequenos prazeres. Mas... pobre Selena Gomez! Se deprimiu ao se deparar com seu corpo perfeito. Não deve ter se lembrado que sua curva lipídica certamente estava ótima. Que seu estado nutricional estava absolutamente adequado. Que seus níveis de endorfina se encontravam na medida de quem se permite comer um chocolate e degustar um vinho vez por outra. Acreditou que seria mais feliz com um corpo artificial. Formas de boneca Barbie que provavelmente atentariam contra seu metabolismo. A boneca Barbie, aquela que não para em pé. Um corpo artificial não se sustenta. Atualmente o corpo de Selena Gomez nada mais deixa a dever ao da boneca. Mas já não estou tão certa se é um corpo sustentável.
O processo de envelhecimento é antes de tudo, um privilégio. Tivemos a oportunidade de viver a infância, aproveitar a juventude, produzir na idade adulta. Semeamos, cultivamos, colhemos. Rimos, choramos, nos exaltamos, tivemos uma profusão de sentimentos, quando então começamos a perceber a pele enrugando, as articulações se enrijecendo, o rosto perdendo o viço, ganhando linhas. Mas se nosso corpo parar de pé, se for um corpo sustentável, os olhos denunciarão a alegria do seguir vivendo. Teremos então a sabedoria de continuar usando o corpo a nosso favor, em prol do nosso bem estar e da nossa felicidade.
Todas as vezes que vejo registros de grandes mulheres, de mulheres que fizeram diferença no mundo, reparo como elas são lindas velhinhas. Lindas mesmo, do ponto de vista físico. Mulheres como Irena Sendler, que salvou mais de 2500 crianças judias dos campos de concentração de Varsóvia, e Nise da Silveira, a psiquiatra que solidificou os conceitos de humanização no tratamento do paciente psiquiátrico no Brasil, se tornaram idosas com agradável aparência física. O corpo verdadeiramente perfeito é aquele capaz de refletir a beleza da alma!

sábado, 18 de junho de 2016

Doutrinas Deturpadas

Doutrinas Deturpadas

Cristianismo, Comunismo, Socialismo.

Doutrinas de inegável elevação moral, mas sempre duramente criticadas pelo senso comum. Senso comum. Esse sim é o verdadeiro cancro da sociedade.  Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda na Alemanha Nazista, disse que  “Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”. Isso é real graças ao famigerado senso comum. Aquilo que todos repetem de forma contundente acaba por se tornar “verdade”, ainda que sejam tolices desmedidas. O escorpião não se mata se for encurralado em um círculo de fogo. Ele desidrata. A cauda se aproxima do corpo não para que o seu veneno seja auto inoculado, mas porque ele está secando e perdendo sua forma. Mas todos podem observar a cauda se aproximando do corpo. Conclui-se que ele se mata, inoculando-se o próprio veneno. Mas nem tudo é o que parece ser.  Necessário observar por outros prismas. O prisma da informação é uma opção interessante!

Pode-se até considerar compreensível que na década de 60 se acusassem os comunistas de “comedores de criancinhas”, devido ao terror implantado na China por Mao Tse Tung. Ele chamou esse estado totalitário de “República Comunista da China”. O senso comum comprou a ideia de esse regime seria um regime Comunista. Compreensível, porém não justificável, já que bastariam noções básicas sobre a doutrina Comunista para entender que o sistema político da China estava longe de ser Comunismo, embora fosse denominado dessa forma. Mas reproduzir nos dias atuais um discurso de que comunistas praticaram o maior estupro coletivo do século, considerando o que supostamente ocorreu no governo totalitário da União Soviética, é uma completa falta de educação cultural. O senso comum impera tanto sobre essas questões, que embora as políticas implantadas na Austrália e nos Países Escandinavos sejam essencialmente socialistas, esse países denominam sua ideologia política de “Social Democracia”, possivelmente para que não lhes sejam atribuídas as reminiscências do governo totalitário de Stalin, que ele chamou de Socialismo.

A ideologia da doutrina Comunista é o estabelecimento de uma sociedade igualitária, sem classes sociais e apartidária, baseada na propriedade comum dos meios de produção. Sociedade apartidária, ou seja, sem Estado. A decisões seriam tomadas de maneira democrática pela comunidade. Em sua descrição original Marx escreve a expressão “sem opressão” quando discorre sobre a forma de se estabelecer as políticas comuns. A doutrina Comunista é o oposto daquilo que Mao Tse instaurou na China: Estado pleno, totalitário. A extinção de toda e qualquer discussão democrática. Até a forma de plantio e o que deveria ser plantado era estabelecido pelo Estado. A China era na verdade uma Ditadura Facista, sob a denominação de Comunismo.

O Socialismo, em sua forma teórica, seria uma maneira de viabilizar o Comunismo a longo prazo, possibilitando a transição do Capitalismo, com o Estado executando a função de organizar as políticas sociais. O Estado seria forte e recolheria os recursos para distribuí-los de forma igualitária, similar ao que ocorre atualmente na Austrália e Dinamarca, onde o cidadão paga de 40% a 45% da sua renda como imposto ao Estado, e todos têm garantidos direitos básicos como educação, saúde, segurança e lazer. Embora o princípio central do Capitalismo, a propriedade privada, permaneça como a  base da economia desses países, a sua estrutura sócio-política foi o que mais próximo se chegou até hoje da essência do Socialismo, enquanto que o  Estado opressor que foi instaurado na União Soviética por Joseph Stalin é exatamente o oposto.

Embora o Cristianismo seja uma doutrina mais amplamente conhecida, as atitudes atrozes dos que se auto denominam “cristãos” ainda causam indignação em muitos corações. O Legado de Jesus, porém, é muito claro e muito sólido. Cada palavra proferida por Ele foi solidamente edificada no exemplo.

“A cada um será dado segundo as suas obras”.

Essa assertiva de clareza cristalina e essência inquestionável é suficiente para fazer cair por terra toda sorte de intolerância engendrada em  Seu nome. Cada um receberá segundo as suas obras. Independente de crenças e convicções religiosas, independente de orientação e identidade de gênero, independente de raça, independente de  castas sociais e familiares. Essencial apenas é o que a atitude de cada um gerou. E importa apenas à cada um. Pela obra que edificar ao longo da sua jornada terrestre, João receberá sua paga. Não importa a Antônio, ou a Francisco, ou a Maria a obra de João. Cada um “será julgado” pelas próprias construções. A atitude alheia em nada interfere na sua própria caminhada evolutiva. É inadmissível conceber que guerras sangrentas como as Cruzadas fossem executadas com a finalidade de ampliar as fronteiras do Cristianismo. Que as atrocidades da Inquisição fossem para o bem do Evangelho. Que preconceitos, dos mais diversos, disseminados por legiões de religiosos fundamentalistas, estejam em concordância com a misericórdia de Jesus. Nenhuma intolerância religiosa, seja ela pautada na violência ou no preconceito, está prevista na Doutrina Cristã.

Abandonemos as vestes rotas do senso comum. A informação se encontra na palma da mão, literalmente, nos tempos modernos. É preciso ampliar o campo de visão e tirar a mente do embotamento, ou nossa boca continuará repetindo mil vezes uma mentira e as nossas mãos participarão ainda de muitas iniquidades, semeando a nossa própria derrocada.

domingo, 12 de junho de 2016

A CULTURA DA INTOLERÂNCIA

                  A CULTURA DA INTOLERÂNCIA

Correndo os olhos pela rede no período da tarde leio alguns vagos comentários sobre agressões homofóbicas. Até o momento não tinha lido nada sobre esse ocorrido. E não me animei a fazê-lo de pronto. Tarde agradável com a família, optei por não transbordar do coração aquele sentimento que iniciava a turbá-lo. Posterguei sentir mais uma vez o amargor na boca que me provoca todo e qualquer tipo de discriminação e violência. Tentei prolongar a sensação de felicidade que sempre me traz o convívio leve com minhas crianças. Mas sabia que a ponta de tristeza se descortinaria em iceberg. Não é para menos. Nosso país parece assolado por ódio. Esse país, que até então se fazia conhecer no mundo pela alegria e receptividade do seu povo, seguiu  a recomendação do Poeta e mostrou sua cara!

O desabafo da garota negra e cotista ao terminar a faculdade de medicina demonstrou o quanto ela foi hostilizada durante o curso, mas foi interpretada como provocação barata, deixando claro a total falta de empatia da população com o sofrimento do negro pobre.

A garota de 16 anos é covardemente estuprada por 30 homens, e cidadãos brasileiros ainda colocam em discussão se realmente houve estupro, já que comportamento e reputação da garota seriam duvidosos. O delegado encarregado do caso é um desses cidadãos. O circo de horrores só não foi maior porque ele foi afastado do caso em tempo hábil. E pensar que à época do Carnaval eu me indignei porque a grande mídia não saiu em defesa de uma mulher que foi arremessada no asfalto por dirigentes de uma escola de samba, sob alegação de que sua nudez prejudicaria o desempenho da escola. Ora! A grande mídia sequer deu repercussão à execução de uma garoto negro, de 10 anos de idade, por policiais militares. Mas assim como a menina estuprada mereceu, o pivete era ladrão, vivia da prática de furtos, roubou o carro, e de arma em punho atirava na polícia enquanto dirigia. Depois a arma já não mais estava em suas mãos. Vergonhoso demais sustentar tamanha farsa? Mas apesar das mãos da polícia continuarem tintas de sangue a grande mídia noticia a liberação do consumo do ovo!

À noite, como a curiosidade não permitisse mais adiar a atitude, joguei na rede “agressão homofóbica”, enquanto me lembrava do casal homoafetivo espancado na Avenida Paulista no ano passado. Confesso que a sensação inicial foi de alívio! “Atirador abre fogo em boate gay em Orlando”. Não foi no Brasil! Foi um ataque fundamentalista, provavelmente ligada ao Estado Islâmico. Mas a sensação de alívio logo foi substituída pelo amargor na boca.

O Estado Islâmico é aqui.

A Índia é aqui.

O Apartheid é aqui.

O Parlamentar fundamentalista conhecido por declarações homofóbicas, misóginas e racistas, que exaltou a tortura da Ditadura Militar durante sessão pública da Câmara, possui 3 milhões de seguidores em sua página.


O Brasil finalmente mostrou a sua monstruosa cara.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

A Essência do Golpe

Por mais que os áudios dos PMDBistas escancarem  os reais motivos do Impeachment,  ainda acho que a essência do golpe é outra. Quem votou na Dilma votou em um estado de inclusão, votou pelas questões sociais, votou contra o Estado Mínimo e a Meritocracia, contra a política neoliberal. E a maioria do povo brasileiro votou dessa forma.
Derrubar a Presidente eleita de forma legítima e mudar as estruturas básicas de governo.
Porque não foi apenas o Ministério da Cultura que foi fechado.  Fechou - se também o Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos. Fechou -se o Instituto do Patrimônio Nacional (IPHAN). Já sinalizam minimizar o SUS, quando o anseio de quem o vê funcionando é melhorá-lo e expandí-lo!
Aí está o golpe cada dia mais escancarado. Favorecimento máximo das classes dominantes através do Estado Mínimo.
A vontade do povo sendo vilipendiada.
DEVOLVAM A DEMOCRACIA!

terça-feira, 17 de maio de 2016

Na Contramão

Medida que me deixa especialmente indignada e muito preocupada com os rumos da nação.
Não se pensa em reduzir regalias dos três poderes. Não se pensa em dar seguimento à proposta de taxação de grandes fortunas. Opta-se por seguir na contra mão do mundo caminhando para o estado mínimo. Até mesmo os Estados Unidos já reconsideraram esse conceito à medida que as oportunidades se fazem mais escassas no país.
O SUS apesar das muitas limitações consegue oferecer à população medicina de qualidade, que fica pouco a dever ao Primeiro Mundo.  Correção de cardiopatias complexas, sobrevida de qualidade para pacientes oncológicos, crescente número de transplantes, terapia renal que permite aos pacientes aguardarem o transplante em boas condições clínicas, atendimento de excelência ao trauma. É inadmissível roubar essas conquistas do povo brasileiro.
Esse governo definitivamente não me representa!

quarta-feira, 4 de maio de 2016

DAVI

Davi

Quando o conheci  era um fiapo de gente. Nascido prematuramente, Davi devia pesar pouco mais que um quilo. Era preciso firmar a vista dentro da incubadora para conseguir  distinguir o que era Davi e o que eram fios e aparelhos. Além da prematuridade havia nascido com uma doença no coração. Seu irmão gêmeo não apresentava outros problemas e apesar da prematuridade estava bem.

Davi não ia tão bem! Era necessário que se operasse o coração mas a fragilidade do seu corpinho dificultava essa tomada de decisão. Os dias foram passando e a questão cardíaca começava a prejudicar os rins. A pele  daquele bebê negro tomava uma coloração amarelo-acinzentada, indicando a gravidade do seu estado! 

Após exaustivas  discussões com os  especialistas envolvidos decidimos:

-Vamos fazer a cirurgia cardíaca! Esse  corpinho não será capaz de se manter por muito mais tempo dessa forma! Corramos o risco! 

A chefia não concordou: 
-Davi vai morrer no bloco.

- Mas chefe, se ele não operar vai  morrer aqui!

-Eu contraindico a cirurgia! A responsabilidade é sua.
Vesti toda minha coragem e tomei a decisão com a convicção que vibrava na alma. Mandei Davi ao bloco.  Davi retorna da cirurgia mais morto do que vivo! Mas pulsava debilmente um fio de vida. E aquele fio de vida  foi sendo cuidado.  Cada passo do tratamento era meticulosamente estudado, discutido, pensado, revisto. E a vida ia aos poucos  se reestabelecendo, dando a cada dia sinais mais  robustos da sua presença.  Davi melhorava, mas não respirava! Não sem a ajuda dos aparelhos. Fizemos a traqueostomia, mas Davi nada de resolver respirar por  si mesmo! E foi ficando no respirador. E foi crescendo no CTI! Crescendo, sorrindo, nos cativando dia após dia com aquela carinha de quem estava muito bem obrigado! A verdadeira cor da sua pele se fazia mostrar, com toda a intensidade da sua beleza. Davi engordava, batia palmas, gargalhava,  nos deixava cada dia mais encantados.  
Com seu progressivo fortalecimento Davi foi aos poucos, bem lentamente, respirando. Eu sussurrava quando ele me fixava o olhar amistoso: "-Respira, Davi! Seu irmão está lá na sua casa brincando! Vai lá brincar com ele! Respira!"  E ele foi ficando cada  dia menos dependente dos aparelhos e mais presente nos nossos corações. A essa altura já fazia parte do nosso dia-a-dia. Já se fazia amar por todos.

Passado pouco mais de um  ano  entregamos Davi para sua mãe. Lindo, crescido, sorridente! Olhando para aquela criança tão forte e viçosa  era difícil  acreditar tratar-se daquele mesmo bebê que havia chegado escondidinho na incubadora! Davi era a vitória do amor, do cuidado que flui de dentro. Abraçamos, beijamos, choramos! Desejamos que o Davi vivesse uma vida plena e feliz junto com sua família! E viveu! Durante um ano.
Nessa semana chega a notícia de que Davi havia morrido de pneumonia! Os colegas do  hospital que o assistiram na última internação contaram que as questões sociais foram complicadas, talvez determinantes. Várias vezes internara desnutrido e sujinho! Sua família fazia o que podia dentro das suas condições muito distantes das ideais!

Com o coração muito entristecido desejei que o Davi tivesse vivido plenamente esse ano que passou fora do hospital. Desejei que tivesse disputado coisas com o seu irmão, que tivessem trocado uns sopapos, muitas gargalhadas e afagos. Desejei que Davi tivesse tornado sua mãe uma pessoa melhor, mais forte e mais humana. Que ele tenha mudado os rumos da sua família, ensinando como é possível superar dificuldades com  perseverança e alegria. Assim como nos ensinou!


Fiquei pensando na intrincada e frágil trama da vida, tecida por mãos astrais com possibilidades e determinações que nos fogem ainda ao entendimento. Não somos senhores da vida e da morte, não podemos reter em nossas mãos o tênue fio quando a trama já se iniciou a desfiar. Mas somos agentes importantes do destino. Se Davi  permaneceria nesse mundo por pouco tempo, ajudamos a fazer desse tempo um valioso instrumento. Possibilitamos a ele sair da incubadora, se relacionar, ver o mundo lá fora, e quem sabe mudar o rumo de algumas vidas. A história do Davi nos motiva a seguir com amor e alegria a despeito das dificuldades, porque acreditamos que nenhuma luta pela vida é vã. De cada luta saímos melhores, exultantes pelos acertos, engrandecidos pelos equívocos, fortalecidos pelas lágrimas que de forma ou de outra insistem em nos molhar as faces e nos lembrar o quão humanos somos.

sábado, 23 de abril de 2016

O PREÇO DA IDEOLOGIA

O PREÇO DA IDEOLOGIA

Convidei uma amiga para sair. Inicialmente aceitou. Pensou melhor e recusou com delicadas desculpas. Se disse desanimada com as questões políticas do país. Entendi bem a razão do desânimo. Quão desagradável discutir política em um almoço de fim de semana! Iniciei o pagamento do meu quinhão. Ninguém abraça uma causa impunimente. Logo eu, sempre bem humorada e divertida, comecei a discutir com muita frequência e alguma firmeza esse incômodo assunto de política.

Achei que já estivesse suficientemente chateada quando na manhã seguinte me deparo com uma postagem em rede social de mais um vídeo do nosso prezadíssimo deputado declaradamente racista, homofóbico, machista e simpatizante das práticas de  tortura. A postagem era de um amigo que exaltava o fato desse congressista estar debochando da Comissão de Direitos Humanos. Amigo antigo, colega de faculdade. Confesso que me doeu o rompimento.

Apesar da contundência em expressar meu ponto de vista tenho muito respeito pelas posições políticas diferentes. Entendo que todas as pessoas lutam por um país melhor, e cada um luta de acordo com sua história, com suas afinidades, com seus anseios.  Porém, parafraseando um comentário que vi pela rede, apoiar Bolsonaro não é uma posição política, é compactuar com uma ideologia criminosa.

Eliminar essa gente dos meus círculos pessoais de amizade é sem dúvida uma forma de proteger meus filhos que são negros. Mas não se trata apenas disso. Se faz necessário combater esse tipo de ideologia em prol do país, por nós mesmos. Todos nós fazemos parte de alguma minoria. Instalar uma mentalidade facista no país não é bom para ninguém! Se a mulher que apoia esse discurso sofre algum tipo de assédio, ou mesmo de violência, com que força moral erguerá sua voz para defender sua própria dignidade? Se um dos assíduos defensores desse tal parlamentar descobre posteriormente que seu filho foi espancado, ou até assassinado por ser gay, entenderia que a responsabilidade é de todos que disseminaram essa cultura de ódio, inclusive dele próprio? E se esse mesmo homem, ainda que branco, heterossexual e rico sofrer uma acidente ou for assolado por alguma doença e se tornar incapaz de trabalhar, de sobreviver por si mesmo, ele acredita que uma sociedade regida por princípios excludentes seria solidária, o acolheria?

Após passar o dia agastada com tudo isso concluí que por mais alto que seja o preço e por mais que a luta às vezes pareça vã eu não poderia fazer diferente. Darcy Ribeiro disse que fracassou em tudo o que tentou na vida. Não é verdade. A semente ficou plantada e vai aos poucos germinando. Que seja para seguir a luta de muitos sem concluí-la. Outros chegarão para dar continuidade. Ainda que se perca amigos, ainda que os sorrisos antes abertos se transformem em um  riso forçado no canto da boca,  ainda que os cumprimentos efusivos se tornem saudações polidamente frias. Ainda que por vezes pareça o fardo pesado demais. Ainda mais pesado é viver em uma sociedade excludente. Ainda que a luta às vezes pareça solitária, é preciso vislumbrar um horizonte de melhores dias, que certamente chegarão.
                       

“Fracassei em tudo o que tentei na vida.
Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui.
Tentei salvar os  índios, não consegui.
Tentei fazer uma universidade séria e fracassei.
Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei.
Mas os fracassos são minhas vitórias.
Eu detestaria estar no lugar de quem venceu”

Darcy Ribeiro


quarta-feira, 20 de abril de 2016

O Caminho que Conduz à Democracia - ADENDO

ADENDO
Não me lembro bem o início da conversa. Retomo daqui:
- Mas isso era preciso, né? Tínhamos que acabar com essa ditadura do PT!
- Mas não era só esperar 2018 e tirar o PT nas urnas?
- Não adianta! Eles ganham de novo!
- Se eles ganham é porque o povo...
-(interrompendo minha fala) o povo não tem educação pra votar!
- Mas é exatamente isso que caracteriza uma ditadura! Um grupo julga que o povo não tem capacidade de eleger representantes e instala um governo que atenda aos interesses desse grupo!
- Não acredito! Você também com essa história de golpe?

Quem custou a acreditar na conversa fui eu! A pessoa afirma que o povo não tem capacidade intelectual para votar ao mesmo tempo que  demonstra uma total falta de noção acerca dos conceitos de Democracia e Ditadura! E nenhum respeito (ou desconhecimento) à memória nacional.

Peço então uma gentileza a quem possa interessar a leitura do texto abaixo: acrescente ao caminho principal, na minha opinião a honestidade, vias perpendiculares de suma importância, que consistem em conhecimento da história, respeito à memória nacional e consciência política.

O CAMINHO QUE CONDUZ À  DEMOCRACIA
Nossa jovem, incipiente e aparentemente frágil democracia.
O patente desrespeito pelo  voto da população e o espetáculo de horrores orquestrado por ladrões que foi a votação pelo impeachement demonstrou o quão frágil ela ainda é de fato. Estarrecidos, escutamos apologia à ditadura ser aplaudida. Presenciamos no último domingo  verdadeira eleição indireta, precedida de campanha eleitoral e toda sorte de articulações criminosas. Votada por parlamentares que teoricamente deveriam nos representar, já que foram eleitos por nós. Mas se recusaram a fazê-lo. Optaram por representar suas próprias famílias e propriedades. Em nome de Deus. “Deus, Família,  Propriedade”. Isso me soa incomodamente familiar.
Necessário se faz encontrar um caminho que nos reconduza à Democracia. Mais que isso, que nos reconduza a uma Democracia forte, inabalável! Mas um caminho menos tortuoso, um caminho que não seja salpicado pelo sangue e pelas lágrimas de muitos. Esse caminho existe. É transitável. Nos resta iniciar (ou seguir) na travessia.
 Mas qual a razão da dificuldade?
Seria o Brasil um país jovem demais e cujas dimensões continentais impossibilitariam uma sociedade justa? Necessário se faria apelar para o “estado mínimo” em prol da economia ainda que isso signifique dilatar ainda mais as diferenças sociais? Tomemos então a Austrália como exemplo. País grande e jovem, como o nosso. Na Austrália paga-se 45% de imposto de renda. O que em primeiro momento parece absurdo, na verdade possibilita um sistema viável e eficiente. Com uma gestão impecável e a arrecadação o governo garante assistência médica de qualidade, educação do ensino infantil ao superior,  transporte público, segurança e lazer. O cidadão australiano paga quase metade do seus rendimentos ao governo. Mas ao contrário de nós paga apenas uma vez. Não precisa pagar planos de saúde, não precisa pagar a educação dos filhos, não precisa fazer seguros de carro a preços estratosféricos devido ao alto risco de furto, não precisa comprar uma cota de clube, já que além de praias e parques  com infraestrutura de ponta contam com piscinas públicas. “Estado máximo” e quase nenhuma desigualdade social. Exemplo de sistema no qual a meritocracia pode ser considerada justa. Mas há um ponto essencial, imprescindível para o funcionamento do sistema. Há que se ter honestidade. Desvios de arrecadação impossibilitariam qualquer gestão de recursos, por mais inteligente que fosse. Concluímos então que na Austrália existem governantes honestos e que corrupção é provavelmente a exceção. Representantes honestos eleitos por pessoas honestas. Tenho por relatos de amigos que uma carteira foi esquecida em um banco de praia. Documentos, cartões e algum dinheiro. No dia seguinte, quando o dono da carteira se deu conta do esquecido, lá estava a carteira, com o dinheiro inclusive. No mesmo local onde fora esquecida. O produtor de abacaxis deixa seus abacaxis em um caminhão com uma cesta ao lado e uma placa  informando o preço.  Retorna ao fim do dia e recolhe os abacaxis restantes e a cesta com o pagamento pelos que foram levados.
O  fator que impossibilita que nossa democracia siga seu caminho é o mesmo que trava nosso crescimento. É o mesmo motivo pelo qual as políticas sociais não conseguem ser substituídas por medidas reais de igualdade, como melhorias na escola pública. É a desonestidade dos nossos representantes. Eleitos por cidadãos honestos. Cidadãos que não sonegam impostos, que não compram recibos, que não estacionam em vagas para deficientes, que respeitam o assento para idosos no transporte público, que não compram pirataria, que não batem o ponto  sem trabalhar,  que devolvem as carteiras perdidas, que pegariam o abacaxi e pagariam por ele ainda que não estivesse presente o dono da banca para cobrar. Esses somos nós, não somos? Não. Não somos. A desonestidade do nosso Congresso reflete  desonestidade da nossa sociedade.
Nesse momento a Democracia sangra. Necessárias intervenções urgentes. Necessário que ela seja resgatada, reanimada. Necessário se faz nesse momento lutar com todo afinco, com todas as forças. A força da palavra, a força da Constituição, a força da legitimidade do voto, a força da união, a força que a gente nem sabe que tem mas que a indignação ajuda a revelar. Importante não se conformar com esse patente golpe parlamentar e de forma organizada tentar revertê-lo.
Mas assim como uma criança que precisa ser alimentada, cuidada e amada diariamente,  a Democracia também depende de cuidados para que possa definitivamente vingar. Cuidar da Democracia é cuidar das nossas próprias atitudes. É contribuir efetivamente para a consolidação de uma sociedade  digna, livre de preconceitos, com pleno respeito pelo direito de todos. A solidificação da  Democracia depende da nossa mudança de postura mediante as pequenas coisas. Criar uma cultura de honestidade que ainda não aprendemos a valorizar. Esse é o caminho. Quando aprendermos a viver com dignidade plena, não mais votaremos em vão.  E não mais teremos que lamentar pelo nosso próprio país.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

O CAMINHO QUE CONDUZ À DEMOCRACIA

O CAMINHO QUE CONDUZ À  DEMOCRACIA

Nossa jovem, incipiente e aparentemente frágil democracia.
O patente desrespeito pelo  voto da população e o espetáculo de horrores orquestrado por ladrões que foi a votação pelo impeachement demonstrou o quão frágil ela ainda é de fato. Estarrecidos, escutamos apologia à ditadura ser aplaudida. Presenciamos no último domingo  verdadeira eleição indireta, precedida de campanha eleitoral e toda sorte de articulações criminosas. Votada por parlamentares que teoricamente deveriam nos representar, já que foram eleitos por nós. Mas se recusaram a fazê-lo. Optaram por representar suas próprias famílias e propriedades. Em nome de Deus. “Deus, Família,  Propriedade”. Isso me soa incomodamente familiar.
Necessário se faz encontrar um caminho que nos reconduza à Democracia. Mais que isso, que nos reconduza a uma Democracia forte, inabalável! Mas um caminho menos tortuoso, um caminho que não seja salpicado pelo sangue e pelas lágrimas de muitos. Esse caminho existe. É transitável. Nos resta iniciar (ou seguir) na travessia.
 Mas qual a razão da dificuldade?
Seria o Brasil um país jovem demais e cujas dimensões continentais impossibilitariam uma sociedade justa? Necessário se faria apelar para o “estado mínimo” em prol da economia ainda que isso signifique dilatar ainda mais as diferenças sociais? Tomemos então a Austrália como exemplo. País grande e jovem, como o nosso. Na Austrália paga-se 45% de imposto de renda. O que em primeiro momento parece absurdo, na verdade possibilita um sistema viável e eficiente. Com uma gestão impecável e a arrecadação o governo garante assistência médica de qualidade, educação do ensino infantil ao superior,  transporte público, segurança e lazer. O cidadão australiano paga quase metade do seus rendimentos ao governo. Mas ao contrário de nós paga apenas uma vez. Não precisa pagar planos de saúde, não precisa pagar a educação dos filhos, não precisa fazer seguros de carro a preços estratosféricos devido ao alto risco de furto, não precisa comprar uma cota de clube, já que além de praias e parques  com infraestrutura de ponta contam com piscinas públicas. “Estado máximo” e quase nenhuma desigualdade social. Exemplo de sistema no qual a meritocracia pode ser considerada justa. Mas há um ponto essencial, imprescindível para o funcionamento do sistema. Há que se ter honestidade. Desvios de arrecadação impossibilitariam qualquer gestão de recursos, por mais inteligente que fosse. Concluímos então que na Austrália existem governantes honestos e que corrupção é provavelmente a exceção. Representantes honestos eleitos por pessoas honestas. Tenho por relatos de amigos que uma carteira foi esquecida em um banco de praia. Documentos, cartões e algum dinheiro. No dia seguinte, quando o dono da carteira se deu conta do esquecido, lá estava a carteira, com o dinheiro inclusive. No mesmo local onde fora esquecida. O produtor de abacaxis deixa seus abacaxis em um caminhão com uma cesta ao lado e uma placa  informando o preço.  Retorna ao fim do dia e recolhe os abacaxis restantes e a cesta com o pagamento pelos que foram levados.
O  fator que impossibilita que nossa democracia siga seu caminho é o mesmo que trava nosso crescimento. É o mesmo motivo pelo qual as políticas sociais não conseguem ser substituídas por medidas reais de igualdade, como melhorias na escola pública. É a desonestidade dos nossos representantes. Eleitos por cidadãos honestos. Cidadãos que não sonegam impostos, que não compram recibos, que não estacionam em vagas para deficientes, que respeitam o assento para idosos no transporte público, que não compram pirataria, que não batem o ponto  sem trabalhar,  que devolvem as carteiras perdidas, que pegariam o abacaxi e pagariam por ele ainda que não estivesse presente o dono da banca para cobrar. Esses somos nós, não somos? Não. Não somos. A desonestidade do nosso Congresso reflete  desonestidade da nossa sociedade.
Nesse momento a Democracia sangra. Necessárias intervenções urgentes. Necessário que ela seja resgatada, reanimada. Necessário se faz nesse momento lutar com todo afinco, com todas as forças. A força da palavra, a força da Constituição, a força da legitimidade do voto, a força da união, a força que a gente nem sabe que tem mas que a indignação ajuda a revelar. Importante não se conformar com esse patente golpe parlamentar e de forma organizada tentar revertê-lo.
Mas assim como uma criança que precisa ser alimentada, cuidada e amada diariamente,  a Democracia também depende de cuidados para que possa definitivamente vingar. Cuidar da Democracia é cuidar das nossas próprias atitudes. É contribuir efetivamente para a consolidação de uma sociedade  digna, livre de preconceitos, com pleno respeito pelo direito de todos. A solidificação da  Democracia depende da nossa mudança de postura mediante as pequenas coisas. Criar uma cultura de honestidade que ainda não aprendemos a valorizar. Esse é o caminho. Quando aprendermos a viver com dignidade plena, não mais votaremos em vão.  E não mais teremos que lamentar pelo nosso próprio país.

terça-feira, 15 de março de 2016

A Polêmica das Babás

A Polêmica da Babás
Desde a questão da proibição legal (ainda em votação) do uso de coletes pelas babás nos clubes, as opiniões se dividem. Seria essa questão de importância menor, com a qual sequer  valeria a pena gastar o tempo e os argumentos? E antes que esse incômodo assunto fosse devidamente esquecido, o Brasil novamente volta seus olhares à Maria Angélica, a babá do casal de empresários que empurrava o carrinho dos bebês rumo à manifestação. Devidamente uniformizada, já que estava em seu horário de trabalho. Devidamente remunerada, segundo seus empregadores. Tudo dentro da lei. Trabalhista e social.
Já que vamos discorrer aqui sobre a legalidade do trabalho e a sociedade, recorramos à História. À época da escravidão, era reconhecido como uma pessoa generosa e de boa moral o senhor que tinha por ideologia não imputar aos seus escravos castigos físicos. Os raros senhores relatados pela história que por convicção libertaram os escravos de sua propriedade e passaram  a remunerá-los pelo seus serviços, ainda que uma remuneração simbólica, mas com a alforria garantida, esses  foram execrados por subverter a ordem trabalhista vigente.
Abolição instaurada no mundo, sigamos até a Revolução Industrial. Trabalhadores eram remunerados escassamente  por jornadas de trabalho desumanas. Mas não eram escravos, o que já demonstra uma evolução humanitária da relação de trabalho.  Mas a Humanidade podia ir mais longe. Criou-se a hora de descanso remunerada.
E os direitos trabalhistas foram sendo lentamente conquistados  às custas de muita luta e da vida de muitos. Menos para os trabalhadores domésticos, que seguiam em jornadas duríssimas, com a única garantia legal de receber o salário mínimo estabelecido no país. O Brasil, um dos últimos países do mundo a incluir o trabalhador doméstico na legislação trabalhista vigente, conseguiu há pouco tempo dar esse passo, a despeito dos protestos dos empregadores.
Se estendermos um pouco o olhar poderemos observar que o ofício de babá e de empregada doméstica é um ofício extinto nos países da Europa e em grande parte dos Estados Unidos. O que demonstra claramente que ser um trabalhador doméstico não é uma opção. É a falta dela. Onde há melhores oportunidades paga-se  caro às  empresas que realizam a limpeza da casa. E remunera-se dignamente o educador infantil, já que a escola é a parceira dos pais no horário de trabalho. Nesses países, em via de regra, cada um lava a sua própria louça e empurra o carrinho do seu próprio filho.

Voltando para o Brasil, ainda nos servimos da má distribuição de renda e da escassez de melhores oportunidades para usufruirmos do trabalho doméstico. Tudo dentro da lei. Mas se já avançamos tanto como seres humanos, acho que já não nos custa dar um passo a frente: estabelecer a libertação do estigma social. O argumento de que o uniforme da babá na via pública se equivale ao jaleco  do médico é, no mínimo, frágil.  Não sou obrigada a usar jaleco na rua. E apesar da minha profissão me dar mais status do  que a profissão de babá, não me sentiria  confortável de andar na rua e as pessoas me olharem com uma cara de “olha, a médica!” Na rua sou pessoa.  E o gari? Também não fica uniformizado na rua? Sim. Uniforme que equivale a um equipamento de proteção. Desnecessário no caso das babás. A babá não vai ao clube com intenção de tomar sol. Ela não vai ao aniversário com a intenção de se confraternizar. Ela sabe do dever a ser cumprido.  Não precisa arrastar esse grilhão social.  Podemos avançar como Humanidade e libertar nossos funcionários da escravidão moral, da marca de ser aquilo que ele não escolheu. 

sexta-feira, 4 de março de 2016

A Segunda Infância

A Segunda Infância
A maternidade nos traz muitas coisas  novas e maravilhosas. O desafio de educar e  cuidar de outro ser humano é uma experiência fantástica. Mas  vivenciar uma nova infância  é a melhor parte!  Ver com os meus olhos já adulterados e sentir com o meu coração já não tão puro a infância dos  meus filhos não é  apenas reviver a minha  infância.  É  viver uma segunda infância,  na qual cada gargalhada vibra em meu próprio coração.  A pureza da alma  infantil evidenciada nas palavras tão simples e de tanta profundidade é a minha própria pureza, que ainda não se perdeu. A alegria genuína nas pequenas coisas, é a alegria que ainda  mora em mim!
Sei e desejo que em breve meus filhos baterão sua robustas asas,  que eu estou ajudando a tecer. Longe de me entristecer  com isso,  desejo me tornar a "mãe desnecessária ", tão oportunamente descrita pela psicóloga Márcia Neder . Porque esses anos correntes, absolutamente inesquecíveis,   fazem todas as minhas conquistas  valerem a pena!

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Sobre as Lágrimas de Dor

Sobre as Lágrimas de Dor
Lágrimas  transbordam a dor. E refletem  o estado d'alma.
Uma jovem mulher que perde seu filho ainda criança as derrama de forma copiosa. Elas correm livres pela face lisa, umedecendo pescoço e colo se não impedidas. E assim se encontra a alma, inquieta, tentando inutilmente entender, lidar, conter a dor.
Mas se o mesmo ocorre com a mulher já na idade madura, não importando em que idade seu filho se tenha ido, repare que as lágrimas não correm a semelhança de pequenos leitos fluviais. Se acumulam nos sulcos dos olhos,  como pequeninos lagos, para depois escorrerem em discretos filetes pelo canto da face. Correm tranquilas. Externam-se lenta e continuamente,  como se seguissem o fluxo das lembranças, que vão escapulindo baixinho por entre os lábios.  Essas mulheres não tentam conter a dor. Sabem que é inútil. Apenas a sentem, numa pungente tranquilidade. Serenamente  como suas lágrimas que apenas umedecem os sulcos da face! E lá permanecerão a partir de então...

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

A Fonte da Juventude de Jagger

A Fonte da Juventude de Jagger
Tendo a grata oportunidade de testemunhar  uma magnífica apresentação dos Rolling Stones,  impossível não se impressionar sobretudo com a resistência física  desses  senhores de mais de sete décadas de idade. Todos em ótima forma,  mas é difícil convencer a mente  de que aquele Mick Jagger que os olhos enxergam no palco nasceu em 1943. Movimentando-se quase freneticamente durante todo o show, cantava sem ofegar, mesmo após as suas famosas corridinhas pelo palco. Manteve sua exibição  performática,  com  movimentos extravagantes  e  flexibilidade de dar inveja aos jovens de 20 anos, presentes em grande número naquela noite no Maracanã.  Me perguntei  de  qual  fonte da juventude Mr Jagger andaria bebendo!
Em uma biografia não autorizada, Philip Norman afirma que Mick Jagger jamais se viciou em drogas. Herdou da mãe esteticista o gosto pela aparência, e do pai, educador físico, a disciplina britânica aplicada também aos filhos. Talvez tenha sido  essa a fórmula de  manter uma banda durante 50 anos! Mas ainda não seria a fórmula da juventude. É preciso mais que disciplina para perpetuar tanta energia.  Concluo que o segredo da vitalidade de Jagger encontra-se dentro dele. Motivação. É o que nos move, a todos.  É o que leva bilionários septuagenários percorrerem o mundo em uma pesadíssima agenda de shows. É o que levou Eddie Vedder não apenas aos shows, mas à doação do seu cachê. A questão não é quanto se vai ganhar. É quanto de satisfação seu espírito alcançará. Foi o que faltou a Michael Jackson, que se aventurou a voltar aos palcos pela necessidade financeira. Não foi capaz.

Não é a toa que os empresários buscam “motivar” seus funcionários para aumentar a produção. Eis aí o grande segredo, revelado pela análise cuidadosa dos fatos.  Descubramos o que nos motiva. O que somos capazes de fazer apenas pela satisfação íntima, sem nenhum outro móvel que não a alegria! Bebamos dessa fonte diariamente, e sejamos forever youngs! Do you wanna be?

Relexões sobre um Embrulho de Natal

Reflexões sobre um embrulho de Natal

Crise, correria, muito trabalho, meta de redução do consumismo... decidido então que apenas as crianças receberiam presentes nesse Natal. Talvez, seguindo a tradição francesa,  os adultos recebam presentes de Ano Novo. Talvez. E na convicção de evitar toda e qualquer confusão que viesse atrapalhar o verdadeiro espírito de Natal, comprei os brinquedos pela Internet. O que foi emocionante, pois cada vez que tocava o interfone os adultos da casa se mobilizavam para receber a suposta encomenda sem que os pequenos curiosos percebessem o que se passava!
Então, tudo resolvido! E na semana do Natal me dei conta de que era preciso embrulhar os presentes! Compro sacos de presente às pressas e aproveitando um oportuno cochilo  começo a colocar rapidamente cada brinquedo em seu devido saco. Mas calculei mal o tamanho do brinquedo do Bernardo!  Não coube no saco. Enquanto improvisava um embrulho com retalhos de papel de presente pensei: - Coitado do menino! Espera pelo presente por meses e ganha num embrulho tão improvisado!
Mas antes que a culpa inerente  à maternidade me assolasse comecei a pensar porque não tinha embrulhado esses brinquedos antes! Porque enquanto eles estão na escola eu trabalho. Pego os dois na escola e passo as tardes com eles. Levei em todas as consultas médicas e em  todas as vacinas. Acompanhei todos os atendimentos de fonoaudiologia. Levei à natação religiosamente duas vezes por semana, e quando estou lá dentro da piscina na aulinha dos bebês é tão gostoso que até esqueço aquele "soninho" do pós plantão! Brinquei de esconde esconde, pique amoeba, futebol, fiz massinha. Sei o conteúdo de todos os desenhos que eles assistem, inclusive os nomes dos personagens. Debatemos assuntos polêmicos sobre os personagens de caráter duvidoso( Alviiiiiiim!).  Refletimos sobre a morte e sobre valores (Operação Big Hiro).
 Pensando bem, era quase um milagre que aquele presente estivesse ali comprado e ainda por cima em segredo. Conclui que mesmo se não estivesse, não teria nenhuma importância. Desejei que no próximo ano continuemos assim! Muita presença!  Presente se possível. Amor o tempo todo!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

CumuruDelícia

Cumurxatiba!
Poucos já ouviram falar desse lugarzinho absolutamente delicioso, escondidinho lá no sul da Bahia!
Caminhando ao longo da Praia do Rio do Peixe, ninguém dúvida que a gente tem o privilégio de habitar o país mais lindo do mundo! Mar de um lado, rio de outro.  Uns passos a frente  e eles se encontram! Vegetação à beira mar, que de repente dá lugar a uma falésia!  O céu absolutamente azul, o mar absolutamente verde... até se encontrar com o rio e dar lugar a uma tonalidade ímpar! É como se a paisagem se alegrasse em nos surpreender a cada momento! Tão generosamente que se pode nadar no mar, com a maré mais alta, ou caminhar ao longo dele na maré baixa.
60 km à frente... Corumbau, que a gente chega de carro, bicicleta  (para poucos) ou barco (para quem gosta). Quem vai por terra consegue conhecer o Monte Pascoal por vários ângulos! Ponta de Corumbau, na verdade, já que uma imensa ponta de areia adentra o mar e deslumbra a visão!
E como se come bem em "Cumuru"! Alta culinária à beira mar!
As acomodações são no geral sem luxo, mas  confortáveis e aconchegantes, e com ótimo custo-benefício. As pousadas à beira mar contam com áreas externas arborizadas, em continuidade com a praia!
Tudo tão gostoso que a gente nem sente falta da Internet,  já que o sinal nem sempre está disponível!
Pena que o Brasil, tão rico na sua beleza natural, ainda nos deixa entristecer com as questões sociais. Impossível não se indignar com a condição de miséria e desamparo dos índios que residem em taperas  ao longo das estradinhas que cortam a região! Lamentável que a crescente estrutura turística não favoreça os verdadeiros habitantes locais! Mas parece que os moradores da região já iniciam uma mobilização no sentido de direcionar os escassos recursos públicos no sentido de oferecer aos índios condições mais dignas de vida!
Para descansar, refletir, filosofar, papear, fotografar, pedalar, se encantar, ou se acabar brincando com as crianças... CumuruDelícia!

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

PORQUE É SENSACIONAL PASSAR O REVEILLON COM AS CRIANÇAS

Porque é sensacional passar o Réveillon com as crianças:
Elas arrancam as roupinhas encrementadas em 15 minutos de festa e pulam peladas na piscina. 
Quando ouvem os fogos o menorzinho levanta os bracinhos e grita:- GOL! Os maiorzinhos perguntam: -  Gol do Galo? Ou do Cruzeiro? 
Você coloca o espumante no balde de gelo e depois se dá conta de que o espumante está quente porque os pestinhas comeram todo o gelo!
O que bomba na noite é brincar de estátua ao som de Palavra Cantada.
Eles escolhem com qual pijama querem entrar o ano: Peppa! Homem Aranha! Astronauta!
Na hora dos fogos da virada  ficam pulando e gritando com as mãos nos ouvidos, esperando ansiosos o próximo estouro! 
A noite só termina porque os adultos exaustos informam que a farra acabou!
Por um 2016 com muito mais crianças no mundo!

Divertidamente Psicanalítico

Divertidamente Psicanalítico
Como me identifiquei com essa surpreendente animação! Eu, a personificação da Alegria, sempre tentando espantar a Tristeza, mantê-la bem longe de mim e dos que estão à minha volta!
 E lá estava a Alegria, no comando da sala de controle, zelando pelo bem estar da mente! Isola a Tristeza em um círculo de giz, tentando  impedí-la a todo custo de tocar nas lembranças.  Mas a  Tristeza  não se convence a ficar inativa. Insiste em sair do círculo de giz,  em tocar nas lembranças,  em participar da vida! Quanta inconveniência!  É certo que precisamos da Raiva para nos motivar, o Medo é importante para nos proteger, até o Nojo tem  a sua função de nos alertar. Mas a Tristeza... a que se presta? Só atrapalha!
E na batalha pelas lembranças,  Alegria e Tristeza acabam sugadas da sala de controle e são jogadas em algum outro canto da mente, o subconsciente talvez.Tudo se desestabiliza. Chego a torcer para que a Tristeza caia no buraco negro do esquecimento! E não é que a própria Alegria decide  abandoná - la? Mas na sua tentativa impensada de retornar sem sua companheira, ela própria  cai no buraco do esquecimento. E lá,  sozinha e... quem diria... triste, descobre afinal a importância da Tristeza!
Sem a Tristeza não há reflexão.  Não podemos olhar bem lá dentro de nós sem um quê de melancolia. A Tristeza é necessária para que os ciclos se fechem. A transição entre um fim e um início gera o crescimento espiritual, moral, psíquico... o termo importa pouco! Importa que evoluímos.  Mas não sem a oportuna intervenção da Tristeza.
É claro que não se deve perpetuá-la.  É necessário fechar o ciclo, viver o luto daquilo que se está deixando para trás, e encerrá-lo.  Mas não é preciso afastá-la com tanta determinação, tampouco tentar ignorá -la.
O equilíbrio de alegrias e tristezas constroem a Felicidade.
Os amigos psicólogos devem estar "rindo alto" dessa minha brilhante descoberta! Mas precisei viver 40 anos (e assistir Divertidamente)  para enxergar o óbvio!
Espero viver meus próximos anos com menos Alegria e mais Felicidade!

Nem Tão Feminista Assim...

Nem Tão Feminista Assim...
Não me considero uma feminista convicta.  Acho legal a mulher não trabalhar para cuidar dos filhos. Eu mesma trabalho bem menos que o meu marido para dedicar mais tempo às crianças.  Consequentemente ganho bem menos.  Isso está longe de ser um problema para mim. Gosto de cozinhar para a família,  de fazer as compras de supermercado, de organizar a casa. Dou chilique por causa de barata, prefiro sempre não dirigir, não troco lâmpadas e não tenho a mais vaga idéia de como se conserta um chuveiro!  É claro que, seres humanos complexos que somos, ás vezes o homem prefere cozinhar e a mulher dirigir. Mas acredito que podemos fazer uma boa parceria aproveitando o potencial  de habilidades de cada gênero.
E fiquei indignada quando a nossa tradicional mídia, mais especificamente o Jornal Hoje em Dia,  rotulou de feministas as mulheres que ergueram suas vozes para protestar contra o desfile das camisas oficiais do Clube Atlético Mineiro. Mulheres que amam futebol e se indignaram com o conteúdo do desfile. Protestar contra a objetização da mulher e contra a sexização do futebol, longe de ser questão de feminismo, trata-se de respeitar não apenas a mulher, mas todas as pessoas que amam o futebol pelo esporte admirável que é. Como se não bastasse, um repórter esportivo desse mesmo jornal,  de nome Alexandre Simões, se aventurou a comentar a manchete em um programa de rádio de BH.  Esse brilhante profissional afirmou categoricamente que o desfile foi "apenas mais um ato de machismo do futebol" , já que, segundo ele, as mulheres que protestaram são as mesmas que chamam os torcedores adversários de "Maria",  "frangas",  ou que  "chamam o goleiro de bicha". Pior do que a fragilidade do argumento é a mentalidade medieval de senso comum. O comum é aceitável, normal, ainda que moralmente inadequado! Palavra da nossa mídia.
A mesma mídia que se calou mediante à atitude de truculência da diretoria da escola de samba paulista Unidos do Peruche para com a empresária Juliana Isen. Conhecida como "a musa do Impeachment" por protestar nua, Juliana desfilava  pela escola e decidiu se despir, o que segundo ela, seria uma forma de protesto pacífico. Sem entrar aqui no mérito feminista da questão,  se ela teria ou não o direito de expor seus seios, ou se ela não teria o direito de "prejudicar a escola",  certamente como cidadã,  ela tem o direito  de não ser atirada no asfalto. Já é de se lamentar  que se atire um ser humano no asfalto. Mas é estarrecedor ver uma mulher sendo atirada no asfalto pelo diretor da escola de samba! E que os grandes veículos de comunicação não toquem no assunto! Mas qual o interesse de denunciar a violência contra a mulher em pleno Carnaval?
Em se tratando da nossa mídia, fico na dúvida se o pior é quando ela se cala ou quando se manifesta!