terça-feira, 5 de julho de 2016

Pobre Selena Gomez!

                           Pobre Selena Gomez!
Logo antes do meu horário de nadar, acontece a hidroginástica da terceira idade. Por vezes tenho a feliz oportunidade de observar seus integrantes utilizando o corpo a seu favor. A elasticidade sendo trabalhada com movimentos suaves de alongamento, ajudando a deter o encurtamento próprio da idade. O equilíbrio demonstrado pela leveza e segurança dos movimentos, preservado ou reestabalecido, é conquista essencial para que a qualidade de vida do idoso caminhe lado a lado com ele. A algazarra da saída da piscina, os chistes amigáveis, a corridinha até o vestiário. Necessário ser mais rápido que o vento frio! Eles formam um núcleo social, são parte de um todo. A luta para manter o corpo funcionando bem é coroada com os louros da vitória sobre o tempo. Se mantêm jovens e felizes. Me fazem crer que usar o corpo a nosso favor é uma atitude de sabedoria.  O corpo é o nosso instrumento precioso para seguir na vida física. Mas muitas vezes fazemos o contrário. Empenhamos nosso esforço em favor de uma forma  física esteticamente apreciável, nos  esquecendo de  que  corpo caminha inexoravelmente para o envelhecimento.
Sentimento oposto à satisfação de observar meus colegas de academia me invadiu quando por acaso me deparei com uma matéria: “a foto que causou depressão em Selena Gomez”. Não pude conter a curiosidade e abri o link. Havia uma foto da cantora mexicana saindo do mar, exibindo um corpo absolutamente perfeito. Um corpo nem esquálido, nem obeso. Seios fartos. Aquela dobrinha no ventre, tão comum em mulheres que já passaram da adolescência e começam a acumular mais tecido adiposo no abdome. Pele lisa, bem cuidada e hidratada. Massa muscular aparentemente preservada. Era um corpo que dava todos os indícios de uma boa alimentação e de uma vida feliz, de uma pessoa que se permite pequenos prazeres. Mas... pobre Selena Gomez! Se deprimiu ao se deparar com seu corpo perfeito. Não deve ter se lembrado que sua curva lipídica certamente estava ótima. Que seu estado nutricional estava absolutamente adequado. Que seus níveis de endorfina se encontravam na medida de quem se permite comer um chocolate e degustar um vinho vez por outra. Acreditou que seria mais feliz com um corpo artificial. Formas de boneca Barbie que provavelmente atentariam contra seu metabolismo. A boneca Barbie, aquela que não para em pé. Um corpo artificial não se sustenta. Atualmente o corpo de Selena Gomez nada mais deixa a dever ao da boneca. Mas já não estou tão certa se é um corpo sustentável.
O processo de envelhecimento é antes de tudo, um privilégio. Tivemos a oportunidade de viver a infância, aproveitar a juventude, produzir na idade adulta. Semeamos, cultivamos, colhemos. Rimos, choramos, nos exaltamos, tivemos uma profusão de sentimentos, quando então começamos a perceber a pele enrugando, as articulações se enrijecendo, o rosto perdendo o viço, ganhando linhas. Mas se nosso corpo parar de pé, se for um corpo sustentável, os olhos denunciarão a alegria do seguir vivendo. Teremos então a sabedoria de continuar usando o corpo a nosso favor, em prol do nosso bem estar e da nossa felicidade.
Todas as vezes que vejo registros de grandes mulheres, de mulheres que fizeram diferença no mundo, reparo como elas são lindas velhinhas. Lindas mesmo, do ponto de vista físico. Mulheres como Irena Sendler, que salvou mais de 2500 crianças judias dos campos de concentração de Varsóvia, e Nise da Silveira, a psiquiatra que solidificou os conceitos de humanização no tratamento do paciente psiquiátrico no Brasil, se tornaram idosas com agradável aparência física. O corpo verdadeiramente perfeito é aquele capaz de refletir a beleza da alma!