sexta-feira, 23 de junho de 2023

FERNANDO

 Faculdade é um caldeirão, dentro do qual a gente circula seguindo o fluxo, fala com todo mundo, mas cedo ou tarde chega a conclusão que  as afinidades são poucas. Mas sempre  tem aquele, que como você, é um ponto fora da curva, aquele esquisitão, que você acha engraçado, ri das piadas ácidas que são uma forma de lidar com as agruras do mundo dentro e fora da gente. Se identifica com sua origem simples, tenta alertar que não adianta ele tentar ser playboy igual aos outros, porque ele essencialmente  não é.  As  preocupações reais são a sua família que ficou no interior,  o esforço para organizar seu mundo íntimo, lidar com a angústia do desejo de conciliar a profissão que ele escolheu com um estilo de vida tranquilo. Respirar fundo, arregaçar as mangas, ser competitivo. Nadar contra a maré.

Aquele que ri das próprias piadas, às vezes sem graça, mas seu riso quase infantil, o brilho matreiro dos seus olhos esverdeados faz a gente rir também.

Aquele cara meio sem noção, folgado,  que liga no telefone fixo pra nada,  bate um papo com seu pai, depois não se lembra  para que ligou. Procastinação compartilhada! 

O que sumia da aula, das festas, evaporava sem  se despedir, porque estava com sono ou de saco cheio.

E foi assim que ele deixou essa vida! Num átimo! Sem sequer acenar.

Sem permitir que a vida se redimisse por traçar destinos distantes  e concedesse um encontro, ainda que casual.

Sem nos dar a chance de olhar ainda uma vez os seus olhos matreiros e contar uma piada sem graça pra ver abrir seu sorriso branco. 

Talvez sem saber que foi ingrediente essencial para minha sobrevivência  naquele caldeirão!