segunda-feira, 18 de abril de 2016

O CAMINHO QUE CONDUZ À DEMOCRACIA

O CAMINHO QUE CONDUZ À  DEMOCRACIA

Nossa jovem, incipiente e aparentemente frágil democracia.
O patente desrespeito pelo  voto da população e o espetáculo de horrores orquestrado por ladrões que foi a votação pelo impeachement demonstrou o quão frágil ela ainda é de fato. Estarrecidos, escutamos apologia à ditadura ser aplaudida. Presenciamos no último domingo  verdadeira eleição indireta, precedida de campanha eleitoral e toda sorte de articulações criminosas. Votada por parlamentares que teoricamente deveriam nos representar, já que foram eleitos por nós. Mas se recusaram a fazê-lo. Optaram por representar suas próprias famílias e propriedades. Em nome de Deus. “Deus, Família,  Propriedade”. Isso me soa incomodamente familiar.
Necessário se faz encontrar um caminho que nos reconduza à Democracia. Mais que isso, que nos reconduza a uma Democracia forte, inabalável! Mas um caminho menos tortuoso, um caminho que não seja salpicado pelo sangue e pelas lágrimas de muitos. Esse caminho existe. É transitável. Nos resta iniciar (ou seguir) na travessia.
 Mas qual a razão da dificuldade?
Seria o Brasil um país jovem demais e cujas dimensões continentais impossibilitariam uma sociedade justa? Necessário se faria apelar para o “estado mínimo” em prol da economia ainda que isso signifique dilatar ainda mais as diferenças sociais? Tomemos então a Austrália como exemplo. País grande e jovem, como o nosso. Na Austrália paga-se 45% de imposto de renda. O que em primeiro momento parece absurdo, na verdade possibilita um sistema viável e eficiente. Com uma gestão impecável e a arrecadação o governo garante assistência médica de qualidade, educação do ensino infantil ao superior,  transporte público, segurança e lazer. O cidadão australiano paga quase metade do seus rendimentos ao governo. Mas ao contrário de nós paga apenas uma vez. Não precisa pagar planos de saúde, não precisa pagar a educação dos filhos, não precisa fazer seguros de carro a preços estratosféricos devido ao alto risco de furto, não precisa comprar uma cota de clube, já que além de praias e parques  com infraestrutura de ponta contam com piscinas públicas. “Estado máximo” e quase nenhuma desigualdade social. Exemplo de sistema no qual a meritocracia pode ser considerada justa. Mas há um ponto essencial, imprescindível para o funcionamento do sistema. Há que se ter honestidade. Desvios de arrecadação impossibilitariam qualquer gestão de recursos, por mais inteligente que fosse. Concluímos então que na Austrália existem governantes honestos e que corrupção é provavelmente a exceção. Representantes honestos eleitos por pessoas honestas. Tenho por relatos de amigos que uma carteira foi esquecida em um banco de praia. Documentos, cartões e algum dinheiro. No dia seguinte, quando o dono da carteira se deu conta do esquecido, lá estava a carteira, com o dinheiro inclusive. No mesmo local onde fora esquecida. O produtor de abacaxis deixa seus abacaxis em um caminhão com uma cesta ao lado e uma placa  informando o preço.  Retorna ao fim do dia e recolhe os abacaxis restantes e a cesta com o pagamento pelos que foram levados.
O  fator que impossibilita que nossa democracia siga seu caminho é o mesmo que trava nosso crescimento. É o mesmo motivo pelo qual as políticas sociais não conseguem ser substituídas por medidas reais de igualdade, como melhorias na escola pública. É a desonestidade dos nossos representantes. Eleitos por cidadãos honestos. Cidadãos que não sonegam impostos, que não compram recibos, que não estacionam em vagas para deficientes, que respeitam o assento para idosos no transporte público, que não compram pirataria, que não batem o ponto  sem trabalhar,  que devolvem as carteiras perdidas, que pegariam o abacaxi e pagariam por ele ainda que não estivesse presente o dono da banca para cobrar. Esses somos nós, não somos? Não. Não somos. A desonestidade do nosso Congresso reflete  desonestidade da nossa sociedade.
Nesse momento a Democracia sangra. Necessárias intervenções urgentes. Necessário que ela seja resgatada, reanimada. Necessário se faz nesse momento lutar com todo afinco, com todas as forças. A força da palavra, a força da Constituição, a força da legitimidade do voto, a força da união, a força que a gente nem sabe que tem mas que a indignação ajuda a revelar. Importante não se conformar com esse patente golpe parlamentar e de forma organizada tentar revertê-lo.
Mas assim como uma criança que precisa ser alimentada, cuidada e amada diariamente,  a Democracia também depende de cuidados para que possa definitivamente vingar. Cuidar da Democracia é cuidar das nossas próprias atitudes. É contribuir efetivamente para a consolidação de uma sociedade  digna, livre de preconceitos, com pleno respeito pelo direito de todos. A solidificação da  Democracia depende da nossa mudança de postura mediante as pequenas coisas. Criar uma cultura de honestidade que ainda não aprendemos a valorizar. Esse é o caminho. Quando aprendermos a viver com dignidade plena, não mais votaremos em vão.  E não mais teremos que lamentar pelo nosso próprio país.

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