terça-feira, 15 de março de 2016

A Polêmica das Babás

A Polêmica da Babás
Desde a questão da proibição legal (ainda em votação) do uso de coletes pelas babás nos clubes, as opiniões se dividem. Seria essa questão de importância menor, com a qual sequer  valeria a pena gastar o tempo e os argumentos? E antes que esse incômodo assunto fosse devidamente esquecido, o Brasil novamente volta seus olhares à Maria Angélica, a babá do casal de empresários que empurrava o carrinho dos bebês rumo à manifestação. Devidamente uniformizada, já que estava em seu horário de trabalho. Devidamente remunerada, segundo seus empregadores. Tudo dentro da lei. Trabalhista e social.
Já que vamos discorrer aqui sobre a legalidade do trabalho e a sociedade, recorramos à História. À época da escravidão, era reconhecido como uma pessoa generosa e de boa moral o senhor que tinha por ideologia não imputar aos seus escravos castigos físicos. Os raros senhores relatados pela história que por convicção libertaram os escravos de sua propriedade e passaram  a remunerá-los pelo seus serviços, ainda que uma remuneração simbólica, mas com a alforria garantida, esses  foram execrados por subverter a ordem trabalhista vigente.
Abolição instaurada no mundo, sigamos até a Revolução Industrial. Trabalhadores eram remunerados escassamente  por jornadas de trabalho desumanas. Mas não eram escravos, o que já demonstra uma evolução humanitária da relação de trabalho.  Mas a Humanidade podia ir mais longe. Criou-se a hora de descanso remunerada.
E os direitos trabalhistas foram sendo lentamente conquistados  às custas de muita luta e da vida de muitos. Menos para os trabalhadores domésticos, que seguiam em jornadas duríssimas, com a única garantia legal de receber o salário mínimo estabelecido no país. O Brasil, um dos últimos países do mundo a incluir o trabalhador doméstico na legislação trabalhista vigente, conseguiu há pouco tempo dar esse passo, a despeito dos protestos dos empregadores.
Se estendermos um pouco o olhar poderemos observar que o ofício de babá e de empregada doméstica é um ofício extinto nos países da Europa e em grande parte dos Estados Unidos. O que demonstra claramente que ser um trabalhador doméstico não é uma opção. É a falta dela. Onde há melhores oportunidades paga-se  caro às  empresas que realizam a limpeza da casa. E remunera-se dignamente o educador infantil, já que a escola é a parceira dos pais no horário de trabalho. Nesses países, em via de regra, cada um lava a sua própria louça e empurra o carrinho do seu próprio filho.

Voltando para o Brasil, ainda nos servimos da má distribuição de renda e da escassez de melhores oportunidades para usufruirmos do trabalho doméstico. Tudo dentro da lei. Mas se já avançamos tanto como seres humanos, acho que já não nos custa dar um passo a frente: estabelecer a libertação do estigma social. O argumento de que o uniforme da babá na via pública se equivale ao jaleco  do médico é, no mínimo, frágil.  Não sou obrigada a usar jaleco na rua. E apesar da minha profissão me dar mais status do  que a profissão de babá, não me sentiria  confortável de andar na rua e as pessoas me olharem com uma cara de “olha, a médica!” Na rua sou pessoa.  E o gari? Também não fica uniformizado na rua? Sim. Uniforme que equivale a um equipamento de proteção. Desnecessário no caso das babás. A babá não vai ao clube com intenção de tomar sol. Ela não vai ao aniversário com a intenção de se confraternizar. Ela sabe do dever a ser cumprido.  Não precisa arrastar esse grilhão social.  Podemos avançar como Humanidade e libertar nossos funcionários da escravidão moral, da marca de ser aquilo que ele não escolheu. 

sexta-feira, 4 de março de 2016

A Segunda Infância

A Segunda Infância
A maternidade nos traz muitas coisas  novas e maravilhosas. O desafio de educar e  cuidar de outro ser humano é uma experiência fantástica. Mas  vivenciar uma nova infância  é a melhor parte!  Ver com os meus olhos já adulterados e sentir com o meu coração já não tão puro a infância dos  meus filhos não é  apenas reviver a minha  infância.  É  viver uma segunda infância,  na qual cada gargalhada vibra em meu próprio coração.  A pureza da alma  infantil evidenciada nas palavras tão simples e de tanta profundidade é a minha própria pureza, que ainda não se perdeu. A alegria genuína nas pequenas coisas, é a alegria que ainda  mora em mim!
Sei e desejo que em breve meus filhos baterão sua robustas asas,  que eu estou ajudando a tecer. Longe de me entristecer  com isso,  desejo me tornar a "mãe desnecessária ", tão oportunamente descrita pela psicóloga Márcia Neder . Porque esses anos correntes, absolutamente inesquecíveis,   fazem todas as minhas conquistas  valerem a pena!