terça-feira, 15 de setembro de 2020

A Praça

 Praça JK em 12/09/20

Pandemia em curso.

A praça JK é a extensão da nossa casa! Nosso quintal, por assim dizer, com todo o afeto que os quintais representam na vida das famílias.

É o local do brincar, da alegria das manhãs de sol, das memórias inesquecíveis da infância dos nossos filhos! É a Serra nos acolhendo, nos abraçando, nos dizendo que somos bem vindos ao mundo! 

A praça! Simplesmente a praça. A praça onde as crianças que habitam as "coberturas da zona sul" brincam leves e felizes com as crianças da comunidade, como pares. Pares que essencialmente são, e que as desigualdades e o preconceito se encarregam, com o passar da infância, de mascarar a igualdade que é essencial ao ser humano.

A praça onde versa a diversidade e todos compartilham o balanço público e a bicicleta própria. Onde as gargalhadas são uníssonas. Onde os álbuns são completados através das festivas trocas de figurinhas. O local onde mães, pobres e ricas, compartilham as dificuldades comuns à maternidade.

A nossa amada Praça. 

Já se vão seis meses. Seis longos meses sem a alegria da Praça, sem a energia da Serra.

No último sábado resolvemos desafiar a realidade e reencontrar nossa praça!

O nosso pequeno, enlouquecido de alegria, olhava nos olhos de seus pequenos companheiros e se expressava, gastando o melhor da sua retorica: "-Olá Amigo!" 

Falava olhando nos olhos dos companheirinhos, que retribuiam com sorriso largos e balbucios! Dizia a frase que vinha do coração e ensaiava um abraço, um toque. Ensaiava, mas não concluía a ação. Como se, de alguma forma que não posso compreender, soubesse da inadequação daquele ato.

Brincou, como se não houvesse amanhã.

A pequena largou a bicicleta e implorou pelo balanço. O brinquedo, tão desejado, tão amado por ela, tão amado por tantos, estava cheio de crianças e pais no entorno. Com o coração apertado, neguei.

Prometi que voltaríamos, fora do fim de semana, um dia bem cedinho, para que ela pusesse se balançar a vontade sem que os receios do coração materno a atrapalhassem.

O coração materno. Cheio de medo. 

A alegria, o êxtase, a nossa praça... durou tão pouco! Quisera esse coração materno ser mais louco e menos cauteloso.

Após um gostinho de saudade e um banho de álcool gel, partimos. O pequeno aos prantos, sem uma bicicleta que o consolasse a volta!

Tempos cruéis!

"É ilusão querer permanecer saudável em um mundo doente", nos disse o Papa.

A doença veio! Mortal, implacável, talvez para nos ensinar.

Aprendamos então! 

Resiliência!

Paciência!

Resistência!

Não sei se meu coração nos permitirá um retorno breve ao local dos nossos afetos, memórias e alegrias.

Mas espero que a lição do momento seja aprendida!

Olhar para o outro com empatia. Ser solidário. Cuidar do mundo, preservar a natureza. Entender que viver o coletivo traz a felicidade que o individualismo rouba.

Aprender a lição que a praça sempre tentou nos ensinar! Só assim poderemos voltar a usufruir das suas delícias!


Nenhum comentário:

Postar um comentário