sexta-feira, 13 de abril de 2018

VIVER É DIREITO

                                     VIVER É DIREITO
 “Maria é vegana porque respeita todas as formas de vida. Maria já abortou quatro vezes” Esses dizeres estampavam o retrato (desenhado) de uma mulher negra e o título da postagem era algo sobre a hipocrisia da esquerda.

 Difícil escolher por onde começar, mediante esse festival de desrespeito e disparates. Comecemos então pelo respeito.

O estilo de vida que Maria escolheu para ela é direito e problema dela. Quem gosta de comer carne, que coma. Quem acha que abortar é pecado, que não aborte. Mas a convivência em sociedade exige que as opiniões e estilos de vida diversos dos nossos sejam respeitados e se possível não sejam transformados em ofensas na internet.

 Outro ponto que eu tentei inutilmente entender é a relação entre “ser vegano” e “ser esquerda”. Definitivamente não entendo como a opção alimentar de alguém possa ter alguma relação com sua posição política. Não bastasse o tom ofensivo das palavras, a imagem da mulher negra foi a cereja no bolo. Digamos um requinte de crueldade. Ou de preconceito? Mas ao mesmo tempo que a “direita” tenta nos convencer de que a desigualdade racial não existe, se utiliza da imagem de uma mulher negra em uma postagem de intenção pejorativa.

 Agora vamos ao ponto crucial. A questão do aborto. Uma questão complexa demais para ser simplificada em um meme que exala preconceito por todos os cantos. A legalização do aborto. O grande problema dessa questão é que sempre se discute se uma mulher tem o direito de interromper voluntariamente a sua gestação. Se o direito da mulher sobre o próprio corpo é mais genuíno do que o direito de uma criança nascer. Essa porém é uma discussão filosófico-religiosa. Jamais teremos uma resposta exata para ela. Cada indivíduo responde a essa questão segundo suas convicções pessoais, e baseada nessas convicções a mulher toma a decisão de interromper a gestação ou leva-la a à termo. A grande questão acerca da legalização do aborto é que uma vez que a mulher tomou a decisão, baseada no conjunto das suas convicções individuais, não é função do Estado dissuadi-la disso. Uma vez que a mulher optou pelo aborto, e fez isso de forma consciente, essa decisão dificilmente será modificada. Sendo cidadã brasileira, essa mulher recorrerá à clandestinidade, já que lhe é negada uma assistência adequada. Nesse sentido, mulheres pobres e ricas remam contra a mesma maré. Mesmo a mulher que possui recursos para pagar pela assistência, não tem garantia de que os profissionais são capacitados, já que tudo ocorre na ilegalidade. Dessa forma, a questão da legalização do aborto é uma questão de saúde pública. Não temos estatísticas oficiais de quantas mulheres morrem por recorrerem à clandestinidade para realizar o aborto, mas certamente esse número não é pequeno. Nesse caso a função do Estado é reduzir a mortalidade da mulher. Independente da questão moral do ato, a mulher tem o direito de receber assistência médica que garanta a sua vida.

 Relegar a questão do aborto à égide da moralidade é a verdadeira hipocrisia. É ignorar o problema real da mortalidade de mulheres, que certamente têm direito à vida segundo a legislação vigente no país.

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